
A Colômbia, desde 1990, vivia um momento de corrupção em instituições públicas. Lembro que, no Congresso, era muito rígida na apreciação dos meus companheiros. De um lado, colocava as pessoas em quem confiava e dizia que eram honestas. Nelas, buscava apoio para realizar projetos. Os que não estavam nesse grupo eram os desonestos. Minha atitude era tão drástica que nem queria falar com eles. Quando fui sequestrada e precisei viver num mundo com situações extremas, tive de avaliar o que era bom e mau e o que era honesto e desonesto. De alguma maneira, cheguei à conclusão de que fora um erro fechar as portas. Ao negarmos o diálogo de antemão, fechamos oportunidades. Congelamos uma situação.
Descobri que é nos momentos de divergência que mais devemos falar. O diálogo tem um potencial de troca extraordinário. Para isso, você tem de ser humilde. Essa ação tem duas consequências. A primeira é o aprendizado. A segunda é perceber que a maneira como você trata os demais é a mesma como trata a si mesmo. Se você tem compaixão com você mesmo, agirá da mesma forma com os outros. Muitas vezes, as pessoas exigentes consigo mesmas são intransigentes com os demais.
Como todo mundo, com algumas pessoas me dou bem de cara. Com outras, não. Em vez de deixá-las de lado, faço o movimento contrário: tento me aproximar. É um exercício. Quando tenho dificuldade em lidar com alguma pessoa, me interesso mais por ela. Faço um esforço maior para compreendê-la, porque parto do princípio de que todo ser humano tem um ponto de encontro comigo. Nem sempre é simples, mas sempre encontro essa conexão. É um exercício libertador.
Revista Época