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A voz da rua - Carlos Eduardo Leão

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Ela é único fenômeno que desestabiliza e amedronta qualquer mandatário político
27/06/2013  |  domtotal.com

Seria o vandalismo de um ônibus incendiado mais reprovável e inconcebível que o vandalismo das mortes nas filas do SUS?
Por Carlos Eduardo Leão*

O grande problema é não se entender bem e, muito menos, compreender as entrelinhas da "voz da rua". Sabe-se apenas que ela representa o único fenômeno que realmente desestabiliza e amedronta qualquer mandatário político. Essa "voz", afinada ou não, apavora mais que qualquer suspeita de estelionato, improbidade, falcatrua e roubo, que por sua vez representam elos que se ligam fortemente  na concepção do DNA podre que determina o caráter de alguns muitos dos nossos parlamentares, imunes a qualquer acusação ou condenação, mesmo se determinadas pela Suprema Corte deste "país dos desmandos".

Aos que me lêem, compartilho a seguinte linha de raciocínio: Vamos imaginar que a expressão "Um erro não justifica o outro" não balizasse o mundo civilizado, não fosse importante nas relações  interpessoais ou, pior, não existisse nos dicionários da Terra. Sobreviria, certamente, a lei selvagem do "olho por olho, dente por dente".
E a partir desse pensamento pode estar nascendo aqui uma plausível explicação para a violência e as tristes cenas de vandalismo assistidas com apreensão durante as manifestações dos últimos dias. Testemunhamos algo típico de um "revival" da era dos bárbaros, do velho oeste americano ou daquelas cenas injustificadas nas selvas vietnamitas durante a guerra mais insana do mundo contemporâneo.
E aí, fica a pergunta: Não seria o vandalismo de um ônibus incendiado, reprovável e inconcebível, a resposta, igualmente inconcebível,  ao vandalismo das mortes nas filas do SUS, da falta de leitos de CTI, da falta de estrutura mínima para o exercício da medicina básica e do descaso com as legítimas reivindicações da classe médica brasileira?
Não seria o vandalismo da depredação generalizada do patrimônio alheio, de lamentável memória, o outro "olho", igualmente lamentável, do vandalismo contra as crianças brasileiras sem escolas, sem médicos, sem educação, sem perspectivas e sem futuro?
Não seria o vandalismo das vidraças quebradas, nojento e repugnante, o outro "dente", de mesmo nojo e repulsa, do vandalismo contra o trabalhador mais tributado do mundo, que sai de casa às quatro da manhã e não tem um meio de transporte decente para ir e vir, não tem estradas, não tem segurança e, pior, não tem como defender os seus, até agora, 28 bi gastos por determinação da Rainha FIFA e que estão fazendo a alegria dos insaciáveis?
Pois é, meus amigos. Essa é a "voz da rua", na maioria absoluta das vezes firme, empostada, barítona e afinada no seu grito pela honradez nos compromissos éticos que balizam uma verdadeira nação. Muito embora possa, vez ou outra, desafinar e permitir  certas dissonâncias aos ouvidos do próprio povo que a entoa, a "voz da rua" é a arma mais dígna e poderosa no arsenal dos que amam verdadeiramente a pátria.
Lembremos sempre que a expressão "um erro não justifica o outro" é a máxima regra da convivência  pacífica e racional. Sem ela não haveria diálogo, muito menos diplomacia entre governos e povos. Lembremos sempre também, meus amigos, que toda regra está sujeita a uma outra regra - a da exceção, que às vezes é até compreendida pela magnitude de sua intenção.
*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista

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