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O luxo dos estádios padrão Fifa é vizinho da realidade das favelas

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Colunas Rômulo Ávila - Dom Total


O luxo dos estádios padrão Fifa é vizinho da realidade das favelas
A favela faz parte da minha vida e o futebol também. Aliás, deve ser assim com quase todo menino que nasce nas comunidades e periferias do Brasil: ser jogador de futebol é o caminho mais fácil para mudar de vida. Comigo não foi diferente. Lembrei dessa passagem da minha infância e também da minha curta carreira de jogador ao ler sobre os gastos com a Copa do Mundo e relacionálos com a dura realidade das nossas favelas.

Por mais que pareça antagônico, em algumas cidades, o luxo dos estádios padrão Fifa é vizinho da realidade das favelas. O novo Maracanã, por exemplo, fica a 200 metros de distância da favela da Mangueira, que, aliás, não aparece nas imagens da TV quando a nova cereja do bolo da Cidade Maravilhosa é mostrada.

O certo é que a reforma e construção dos estádios para a Copa do Mundo custou muito caro para o bolso do brasileiro, incluindo, é claro, o favelado. Dos mais de R$ 28 bilhões que serão gastos com as obras, quase R$ 8 bilhões são destinados para construção e reformas de arenas esportivas. Com certeza, daria para mudar a realidade de milhares das mais de 6.400 favelas espalhadas pelos quatro cantos do país do futebol. Como diz a letra da música de Renato Russo... "Nas favelas, no senado, sujeira pra todo lado! Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação. Que país é este?"

Mas o pior, por incrível que pareça, não é o gasto absurdo com os estádios, mas sim o que será feito com essas arenas depois. A África do Sul, país da última Copa do Mundo, gasta bilhões para manter os vários elefantes brancos que o Mundial deixou para trás. Por mais que o Brasil seja o país do futebol,  esse problema crônico vai acontecer aqui. Ou alguém acha que o futebol vai consegui sustentar a Arena Amazônia, em Manaus, a Arena Cuiabá, no Pantanal, ou até o mesmo o Mané Garrincha, em Brasília ?

Essas arenas terão o mesmo fim do Cape Town Stadium, na Cidade do Cabo, na África do Sul. Imponente e luxuoso, o estádio, que custou mais de R$ 1 bilhão, passa a maior parte do tempo fechado. Mesmo assim, continua sugando recursos públicos, já que os custos operacionais, por ano, chegam a passar de R$ 13 milhões.

No Brasil, país das mais de 6 mil favelas, essa conta será paga por nós. Tudo isso, no entanto, pode valer a pena. No fundo, no fundo, a Copa do Mundo serviu para acordar  o verdadeiro gigante, não o da Pampulha.


Rômulo Ávila é jornalista formado pela Newton Paiva. Foi repórter esportivo durante dois anos do extinto Diário da Tarde (tradicional periódico de BH fechado pelos Associados Minas em julho de 2007). Atualmente é repórter do Portal DomTotal. Antes de cursar comunicação, foi jogador de futebol profissional. Começou no Vila Nova-MG e passou pelo futebol paulista e nordestino. 

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