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Até há pouco tempo, pacientes que chegavam ao hospital com sintomas que hoje identificam um ataque de pânico tinham seu sofrimento desacreditado. Afinal, os exames não demonstravam nenhuma alteração que justificasse o diagnóstico de uma enfermidade. Apenas em 1980 o Transtorno de Pânico (TP) foi reconhecido e classificado como um transtorno de ansiedade.
As pesquisas mostram que o TP atinge entre 1,5% e 2,5% da população, o que seria atualmente algo em torno de 4,7 milhões pessoas no Brasil. Nos dias de hoje esse é um distúrbio bem conhecido e seu tratamento está bem estabelecido. As pesquisas continuam promovendo avanços nesse sentido.
A designação do TP descreve bem a experiência dos portadores. Passar por uma crise de pânico significa vivenciar subitamente sintomas físicos perturbadores, que incluem falta de ar ou sensações de asfixia, tontura, taquicardia, dormências, aperto no peito, tremores, náuseas, calafrios ou ondas de calor, sudorese, visão borrada, irrealidade e perda de controle, entre outros.
A emergência repentina desses sintomas leva as pessoas a acreditar que são vítimas de um ataque cardíaco ou AVC, que estão morrendo ou ficando loucas. Devido à excitação do sistema nervoso simpático, durante o episódio de pânico as pessoas sentem ímpetos de sair correndo, de balançar as pernas e os braços, de gritar, de insultar alguém ou mesmo entrar numa luta corporal. As reações emocionais variam de pessoa para pessoa, mas em geral são reações de pavor.
Reação de luta e fuga
A repetição dos episódios de pânico e a impossibilidade de controlar sua emergência podem gerar um estado de insegurança, que se generaliza na vida da pessoa. Isso pode levá-la a um quadro grave de limitações nos âmbitos pessoal, familiar, social e até profissional.
A ansiedade é cientificamente conhecida como reação de luta e fuga. Sua função primordial é a de ativar o organismo em situações de perigo. No transtorno do pânico, essa reação é ativada repentinamente, sem que haja um perigo real do qual a pessoa precise se proteger.
A maioria dos pacientes relata que estava atravessando um momento difícil quando passou pelo primeiro episódio de pânico. A partir daí, o indivíduo entra em estado de alerta permanente, buscando sinais que possam ajudá-lo a evitar um novo ataque, mas estes se repetem inesperadamente.
Como não encontra nenhuma explicação para tais episódios na realidade externa, o cérebro humano passa a monitorar o próprio corpo em busca de sensações que sinalizem a emergência de um novo episódio.
Sensações resultantes de alterações fisiológicas normais geralmente percebidas como naturais podem ser interpretadas por pessoas com TP como ameaçadoras. A crença de que as sensações somáticas decorrentes da ansiedade podem causar danos e devem ser temidas é um fator que diferencia o TP de outros transtornos de ansiedade.
O diagnóstico é dado quando a pessoa relata ataques de pânico absolutamente inesperados, recorrentes e seguidos da preocupação constante com um novo ataque, o que a induz a uma mudança de comportamento.
Em muitos casos, ocorre uma associação dos episódios de pânico com a agorafobia, a qual é caracterizada por uma apreensão e consequente tendência a evitar lugares ou situações dos quais possa ser difícil sair ou receber auxílio – caso a pessoa tenha um ataque de pânico.
O que é preciso saber
É muito importante o portador do TP saber que, algum tempo depois de desencadeado um ataque, o sistema nervoso parassimpático entra em ação e o interrompe sem que haja danos ao organismo. As sensações permanecem ainda por algum tempo devido à presença de adrenalina e noradrenalina no sangue, já que estas substâncias demoram um pouco para serem destruídas.
É importante saber que a crise vai passar em pouco tempo e não representa nenhum risco à saúde. Essa consciência reduz o medo e a escalada da ansiedade provocada pela crise.
O tratamento envolve, na maioria dos casos, intervenção medicamentosa e psicoterápica. Para interromper os ataques de pânico é fundamental que o trabalho psicoterapêutico envolva os níveis cognitivo, emocional e comportamental, promovendo a revisão das percepções distorcidas e o desenvolvimento dos recursos que o paciente necessita para enfrentar as situações temidas. A família pode ser chamada a participar do tratamento, dando suporte ao paciente para que possa enfrentar seus medos e limitações.

Vânia de Morais Psicóloga, doutoranda em Linguística (PUC Minas, bolsista pela Fapemig), mestre em Ciências da Saúde (UFMG), pesquisadora em cognição e linguagem. Concentra seus estudos nas questões relativas à linguagem em psicoterapia. Professora em cursos de capacitação de psicoterapeutas e de Especialização em Terapias cognitivas da UFMG.